No dia 3 de setembro de 2019, o CEEM FGV Caxias do Sul recebeu o evento “Café Empresarial: Inovação é tudo para competir, crescer e liderar”. A mesa redonda contou com os empresários convidados Danillo Sciumbata e Gustavo Ângelo Rech, que foram acompanhados por Wagner Cardoso de Pádua Filho, professor do MBA FGV. Na pauta, a importância de criar condições propícias à inovação para crescer e liderar nos dias de hoje.
Médico Doutor em cardiologia pela USP, especialista em Gestão empresarial pela FGV e pós-Doutor pela Warrington School of Business Administration, Wagner falou para o blog do CEEM FGV e nós trazemos um pouco dessa conversa.
Afinal, o que empresas e gestores podem fazer para criar uma cultura de inovação em seus escritórios? O que inovação disruptiva significa na prática? Para esses e outros insights, é só seguir a leitura.
Criando uma cultura de inovação para crescer e liderar
“Uma empresa não pode mais se contentar em oferecer sempre os mesmos produtos e serviços. Os clientes estão mudando e, junto com isso, as suas expectativas. Essas empresas precisam se adaptar a essas mudanças e estar sempre inovando”, explica Wagner. Se antes inovar era ir além, hoje, cada vez mais, passa a ser algo imperativo para se tomar uma posição de liderança, especialmente em mercados bastante competitivos.
Ter um espírito inovador, algo muitas vezes inerente a negócios e pessoas nativos digitais, nem sempre é tão natural para empresas tradicionais, com processos e cultura já bem-definidos. Ainda que a palavra “inovação” tenha se tornado uma commodity em textos de missão e visão, imprimir uma cultura de inovação no DNA de uma organização não é tarefa fácil, e passa por uma mudança de mentalidade.
Mas, afinal, o que caracteriza uma empresa com cultura de inovação? Esses são alguns dos pontos levantados pelo professor Wagner:
- estimular a geração de ideias dentro da organização, mesmo que essas ideias sejam pouco convencionais;
- encorajar trabalhos multidisciplinares, multissetoriais, incentivando que os colaboradores adquiram conhecimentos diversificados e tenham uma visão macro da empresa;
- estimular que os processos sejam cada vez mais dinâmicos, vivos e sujeitos a questionamentos;
- conhecer as ferramentas, os modelos, as estratégias e a literatura da inovação, investindo em consultorias e capacitação das lideranças;
- desenvolver e aplicar tecnologia de ponta;
- investir em capital humano e formação de talentos.
O desafio é levar a inovação para além do discurso e criar um ambiente em que contestar e trazer ideias disruptivas seja parte da rotina e uma tarefa bem-recebida por líderes e gestores.
Falando em disrupção…
O dicionário Michaelis define a palavra disrupção como “quebra de um curso normal de um processo” e “ato ou efeito de romper(-se); fratura”. O termo, que hoje é dos mais repetidos entre empreendedores, ganhou o significado atual a partir do artigo “Disruptive Technologies: Catching the Wave”, escrito em 1995 pelo professor de Harvard, Clayton M. Christensen, e continuou a ser desenvolvido nos anos seguintes, ganhando tração como sinônimo de inovações que mudam a regra do jogo.
Inovar de modo disruptivo é trazer ao mercado uma solução que torna algo mais barato, mais acessível e mais cômodo, especialmente mirando um público que não era contemplado pelas opções disponíveis anteriormente. Um exemplo é o lançamento dos primeiros computadores pessoais pela Apple, no final dos anos 70. Naquela época, um produto gigantesco, caro e restrito às grandes empresas foi transformado em um objeto acessível — e de desejo — aos pequenos negócios e aos lares de classe média.
Wagner enfatizou, ainda, que “inovar de forma disruptiva não é fácil. O que a grande maioria das empresas faz é inovação incremental. A inovação disruptiva é arriscada. Ela exige uma mudança de modelo de negócios, abandonar completamente o que se fazia no passado”. Focar exclusivamente em disrupção pode acabar botando o carro na frente dos bois. A inovação incremental, que traz algo de novo a produtos, serviços ou processos constituídos, também pode trazer resultados e oxigenar mercados e empresas.
Apegar-se à ideia de promover grandes revoluções, pode, inclusive, desviar empresas e empreendedores de uma rotina de inovação. “Não é só sobre produtos e serviços. A gente pode inovar em modelo de negócio, gestão de pessoas. Toda vez que você promove uma melhoria, oferece algo novo ao mercado que gera resultado, impacto, isso é inovação. Não se cria um Uber ou um Airbnb todo dia”, completa Wagner.
Inovando na prática
Ainda sobre o aplicativo global de aluguel de quartos e apartamentos, Wagner ressalta que “o Airbnb demorou de três a quatro anos para ‘pegar’. Eles ficaram andando de lado muito tempo. O hábito de ficar na casa das pessoas era uma coisa nova. Levou tempo para que o mercado entendesse o modelo de negócio”. Hoje, a empresa americana, que enfrentou descrença antes de deslanchar entre 2011 e 2012, tem valuation de US$ 31 bilhões de dólares e IPO anunciado para 2020.
Wagner adverte, ainda que, “quanto mais disruptiva for a inovação maior a chance de fracasso. Inovar é risco. O risco faz parte. Quando a gente fala de errar, fracassar, não significa o erro negligente, incompetente, do desleixo ou da má vontade. É o erro inerente ao que é extremamente novo”, uma lição que interessa tanto a empreendedores quanto a gestores de grandes empresas.
O professor recomenda, também, que o processo criativo seja de primeiro pensar em um problema — uma oportunidade — para depois ir atrás da inovação que pode ser a solução. Pense, por exemplo, no Nubank e em como, por causa da insatisfação com as taxas e burocracias das instituições bancárias tradicionais, a fintech brasileira fundada em 2013 alcançou 10 milhões de clientes em sua conta-corrente e um valor de mercado de 10 bilhões de dólares com um modelo focado em simplificação e transparência dessa relação.
Em outras palavras, criar uma cultura de inovação passa por desenvolver uma prática de trabalho em que os riscos inerentes são aceitos por líderes e gestores. Ou, segundo uma das clássicas frases de Steve Jobs: “Às vezes, quando você inova, comete erros. É melhor admiti-los rapidamente e continuar a melhorar suas outras inovações”.
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